Como a arte pode ser eficaz contra agressões de gênero

Artista visual mineira discute como a arte pode ser uma ferramenta para o enfrentamento da violência contra a mulher

Os 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher convidam a sociedade a olhar para além dos números, das leis e das políticas públicas. A campanha, que mobiliza instituições e movimentos sociais no mundo todo, funciona como um alerta anual de que a violência ainda atravessa corpos, histórias e imaginários.

Nesse contexto, a arte surge como uma ferramenta potente para ampliar a percepção coletiva. Mais do que registrar fatos, ela capta aquilo que escapa à linguagem técnica: sentimentos, memórias, nuances e silêncios que permeiam a experiência feminina. Em um país onde tantas mulheres seguem invisibilizadas, a criação artística se torna também um gesto político.

A artista visual e pesquisadora Juliana Sícoli, que investiga a psicanálise e a psicologia do feminino, acredita que o fazer artístico abre um campo de presença, um lugar onde a mulher pode reaparecer, elaborar e transformar sua própria narrativa. Para ela, durante os 21 dias de ativismo, é fundamental reconhecer que sensibilizar é também uma forma de enfrentamento.

Nessa conversa exclusiva com o Folha do Vila da Serra, a artista expressa seu ponto de vista e compartilha argumentos sobre como a arte pode ser uma ferramenta para o enfrentamento da violência contra a mulher:

O que ainda marca a experiência feminina quando falamos de violência?
Vivemos em um tempo de conquistas importantes, mas também de cicatrizes que insistem em permanecer. Por trás das estatísticas e das políticas públicas, ainda reverbera o silêncio de tantas mulheres atravessadas por violências físicas, emocionais e simbólicas.

A artista Juliana Sícoli (foto: divulgação)

Por que a arte é tão importante durante os 21 dias de ativismo?
É justamente por isso que, neste período dos 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres, precisamos ampliar o debate para além do campo jurídico ou institucional. Há dimensões da experiência feminina que só se revelam quando somos capazes de sentir.

Como você descreve o papel da arte nesse processo?
A arte não é apenas expressão: é respiração, escuta, reorganização interna. É o espaço onde aquilo que foi calado encontra forma, onde o que parecia impossível de nomear finalmente se torna imagem, palavra, movimento.

Como o gesto criativo transforma a experiência da mulher?
Quando uma mulher transforma sua experiência em gesto criativo, ela não apenas fala sobre si: ela se reinscreve. Passa do silêncio à presença, da invisibilidade à autoria.

A arte substitui o enfrentamento institucional?
Ela não substitui o enfrentamento institucional; ela o expande, criando espaço para compreender o que a linguagem técnica não alcança.

O que a sociedade precisa lembrar durante esse período de mobilização?
Durante os 21 dias de ativismo, somos lembrados de que enfrentar a violência contra mulheres não é apenas construir mecanismos de proteção, mas também transformar a sensibilidade coletiva.

Qual a potência desse gesto criativo no cotidiano?
A arte não cura tudo, mas abre caminhos. Não dá respostas prontas, mas produz presença. E presença é, muitas vezes, o primeiro passo para que a violência deixe de ser destino.

    Mais do autor

    CeMais promove blitz da campanha “Toda Idade é Tempo de Ser” 

    Araujo recebe caravana de Natal da Coca-Cola na Praça da Bandeira

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *